quinta-feira, março 30, 2006

Do Primeiro de Dezembro - O Gume experimenta a Poesia III

Portugueses, eu, Restaurador,
De nome D. João, que será quarto,
Prometo, hoje, restaurar a dor
De que o povo português está farto!

Eu sou a alegoria do Futuro,
O Princípio do Novo Portugal:
De Salazar, esse boi casmurro,
A Santana, bobo Universal!

Eu sou a consciência, povo meu,
Da Grandeza que Portugal perdeu
Por deixar o senso p’ra depois.

Eu sou o orgulho deste país lento,
Que há-de acordar, um dia, num lamento,
Por ter expulsado os cérebros espanhóis…

(...)

(Discurso de El-Rei D. João IV, a 1 de Dezembro do ano do Senhor de 1640,
Encontrado em Lisboa e trazido, no mesmo dia, para Lausanne a 01/12/04)

Nota Explicativa:

Foi a 1 de Dezembro, precisamente, mas de 2004, na Torre do Tombo, onde fui procurar notas sobre as crónicas medievais, que encontrei, num pergaminho amarrotado pelos anos, este discurso de tomada de posse de D. João IV, o verdadeiro, (o discurso, não D. João) que, por motivos assaz compreensiveis mas inteiramente reprováveis, foi, até aqui, afastado da consideração dos portugueses. É por dever cívico e responsabilidade e integridade moral que ponho à luz esta prova de clarividência. Afinal, nem todos os que governam serão, por força, idiotas…

Chop Off!

A tolerância é a capacidade de suportar o desagradável. Para uma personalidade susceptível pode mesmo representar a faculdade de suportar o intolerável. O susceptível cai portanto no ridículo por incursar numa contradicção lógica. É desnecessária a demonstração de um exemplo por ser do senso comum que existem exemplos. Isto é um modo político de dizer que não me ocorre nenhum. Ser tolerante é, como tal, uma qualidade rara e louvável, que suaviza as atmosferas, apela ao respeito colectivo e previne os conflitos. Que fazer, porém, quando a tolerância falha? Ou quando nos escapa, a nós, a capacidade de sermos tolerantes?
Se pudéssemos às vezes (penso eu nessas horas), sem aplicações de leis, sem noções de culpa ou pesos na consciència, sem censuras, sem consequências, cortar umas quantas cabeças, esfregá-las na lama, deitá-las depois a uma fogueira e tomar calmamente um digestivo, como quem descansa o corpo de um trabalho e o alivia de uma má refeição…
É curioso notar o que pode, em cada pessoa particular, e em cada circunstância precisa e alterável, representar um alívio; e o que, por oposição, representa um fardo, uma tortura, um sufôco…
Eu, por exemplo, sou de uma instabilidade assombrosa. E as contrariedades à minha personalidade, à minha natureza sensível, afectam-me profundamente, causam-me dores físicas e sentimentais, revoltam-me em explosões de raiva tão violentas que me assustam e envergonham. E, no final do espectáculo, sobra mais uma amostra da minha decadência e um engrossar do meu desprezo pelo Homem… E o pior…
O pior é essa desilusão amarga ao perceber que as minhas metáforas são inconcretizáveis. Talvez apenas por isso sejam metáforas… Mas a verdade é que a amargura fica, o ressentimento rói o nosso corpo, e o ofensor segue o seu caminho com um sorriso nos lábios e a cabeça nos ombros…
E no entanto:
Se é do acordo geral que decaímos, que fazemos do Mundo um armazém de excedentes, que o Futuro já não promete o esforço do progresso mas o da manutenção, que a Sociedade é uma pocilga que se alastra e não pede tolerâncias a ninguém, porque não avançar com o culto sério de cortar cabeças? É no fundo como retomar a ânsia déspota da Raínha de Copas, mas sendo nós, desta vez, quem segura o machado, para ceifar o crânio do Sistema… (Aveiro, 29/10/05)

quarta-feira, março 29, 2006

Um Poema Abstracto - O Gume Experimenta a Poesia II

Na leitura de Nietzsche na esplanada de um bar,
Fica a vontade imensa de quebrar barreiras.
Interrompe-se a leitura descuidada,
E inveja-se a alegria de outra caras
Estampadas em fileiras.

Da leitura de Nietzsche pesarosa
E da espera pela cara que há-de vir
No fim da espera, a determinada hora,
Nasce este conceito de ideias menos claras
Causando esta vontade de partir.

Com a leitura de Nietzsche desviada,
E os olhos perdidos pelo bar,
Aprendo as coisas a que os outros mais reagem,
E com a Verdade e a Mentira programadas,
Nasço da minha Tragédia Vascular.

(Lisboa, 13/11/98)

Nota Sobre o Título (Algo Vago):

Todos os poemas são abstractos. O concreto não existe na linguagem. Toda a poesia é subjectividade, divagação, absurdo. A poesia que faço é resultado do jogo linguistico de mim. A poesia de Shakespeare era resultado do seu absurdo subjectivo associado ao absurdo social de precisar de dinheiro para viver. Isso é concreto. Então, se A Mid Summer Night’s Dream ou Romeo and Juliet, etc., são resultado da fome de Shakespeare, do concreto do corpo, a poesia de Shakespeare é concreta. Não. Não devemos confundir a origem com a consequência. A origem concreta da fome de Shakespeare, deixa de existir como concreta na consequência da abstracção subjectiva que são os seus poemas. O mal social ou do corpo que obrigam o autor a escrever, nada têm a ver com… Por exemplo: Felicidade… Sonho da infância… abstracção completa da linguagem e de mim… Se num acaso eu disser que sou feliz… estou a mentir. Subjectivo, objectivo, abstracto, concreto, que me importa? Comprem o livro, façam-me rico, gastem dinheiro comigo, venerem-me: resolvam o problema da minha fome concreta: por comida, por glória, por dinheiro, por ovações, por mim, e a minha poesia é o que quiserem. Eu sou o que quiserem. POSSO SER O QUE QUISEREM, por inveja ou negação: Proxeneta, prostituta, poeta castrado… Não… não posso, afinal. Ser pelos outros é o supremo mal, ser pelos outros é… Se ao menos Ary soubesse que… Estar morto: A mais triste e confortável condição… Estar vivo: o seu contrário, A MINHA NEGAÇÃO.

P.S.: Agradeço a Lili Caneças, notável filósofa da Modernidade, a formidável lição há uns tempos pronunciada em público, em que clarifica (e com exemplar distinção e clareza) que estar vivo é o contrário de estar morto, não é?. É. De facto. Os críticos, de humor azedo e tacto agreste, não viram na pergunta a entoação retórica. Lili afirmou pela interrogação, levando o ouvinte a questionar-se. Este é já, aliás, um método antigo das filosofias. Depois de lavada a cara com uma plástica, Lili procura lavar a percepção das massas. Sócrates não tentou tanto, e foi grande, porque teve Platão a compreendê-lo. Mas Lili, não tem ninguém. Por este motivo, intervenho, eu, o admirador humilde e modesto, num esforço que espero não ser vão, de ser o platónico discípulo deste novo e inigualável Sócrates. Lili, pela sua unicidade absurda, merece a imortalidade. Por isso, eu, o taciturno escrivão das coisas e dos dias, venho, por meio deste post scriptum, fazer a apologia de quem mais a merece. A apologia de uma Imperatriz do saber, de uma Imperatriz do ridículo (todos os visionários são ridículos), de uma Imperatriz da estupidez (toda a inteligência é imperceptível aos olhos dos idiotas), de uma Imperatriz do desconhecimento (toda a sabedoria é vã perante os infindáveis segredos do gigantesco Universo). Por isso, eu venho registar na memória da Humanidade esquecida, esta figura imensa que é Lili Caneças. Sim, Lili, magestática figura da Verdade e da Ciência, divindade erótica e sublime que me ocupas as reflexões e os sonhos, EU DAR-TE-EI O MUNDO. E o Mundo é o Amanhã, a promessa do sempre, do depois, impondo-se perante os outros do Futuro. EU DAR-TE-EI A ETERNIDADE. Para tal, minha Raínha da Calamidade, minha sublime Dominadora do Nulo, do Vácuo, da Estupidez, não tens de esforçar-te, não tens de pagar-me, não tens de fazer absolutamente nada, senão isto, um pormenor, um detalhe, uma coisa ínfima, quase sem importância, mas fundamental, absolutamente indispensável (glorioso, impressionante paradoxo!): fecha os olhos. Não fales. Não fales nunca: a tua sabedoria infindável não deve nunca ser dita. Pega neste copo que te dou. Leva-o à boca que deve sempre, constantemente estar fechada. Abre-a apenas para isto: para o copo que te dou, humilde, inocente, admiravelmente. Abre-a, abre-a, mais, mais, mais, abre a maior boca que conseguires, abre-a como nunca a abriste até hoje, como nunca nenhum homem (e também tu és um homem, virago impressionante!) como nunca um homem antes de ti a abriu! E bebe, Lili, bebe de um só golo esse cálice, digno de um deus da tua dimensão! Bebe esse néctar do Olimpo como tanto deus igual a ti deveria beber, como tanto sábio como tu deveria tomar! Ah, Lili! Bebe, bebe, bebe essa cicuta!, e eu louvar-te-ei até me cansar…

Poema de Amor da Mais FIna Flor dos Poetas Modernos - O Gume Experimenta a Poesia I

Ardo.
Estou em chamas. Olha;
Olha o meu braço –
Que fogo!
Que calor, socorro,
Que padeço
Neste espaço
E não mereço
Tal fim!
O amor é pirómano.
Tu és pirómana –
Deitaste-me fogo! –
Grito: «Ah, morro!» –
E morri –
Triste fim…

(Lisboa, 03/05/99)


Post Scriptum de Análise Literária (o Vaticínio do Crítico Anódino, perdão Antónimo, quero dizer, Anónimo, isto é...):

Os poetas modernos não merecem este achincalhamento. São modernos, o que lhes permite estar de bem com o Progresso, e são poetas, o que lhes permite estar de bem com eles mesmos: o delírio que a sua poesia lhes confere torna-os capazes de suportar as maiores atrocidades, até de si próprios, e, por consequência, de obter a Paz. O facto de serem, incontestavelemente, maus poetas não deveria sujeitá-los a este vil tratamento. Veja-se a Convenção de Genebra, artigo x/y de 19xx: «Todo o homem tem direito a ser mau e, mesmo assim, ser feliz (…)»… Veja-se a História – Nero, Barroso, Bush, por exemplo…

terça-feira, março 28, 2006

Um Pensamento Moderno...

É hoje! Barcelona! Barcelona! Os sinos batem nas igrejas! As mulheres vêm às janelas agitar as tampas dos tachos e os trapos da cozinha e do chão! Os vendedores de hortaliças, os afiadores do aço, os homens do gaz, os polícias, os bêbados, todos saiem à rua com pífaros, apitos, bandeiras, lança-chamas! É sublime! Todo o país se prepara para o triunfo final da noite mágica!
Já vejo o Estado do Tempo: Hoje o céu estará vermelho, a humidade será pouca, a temperatura alta, os termómetros vão registar uma explosão, a terra vai tremer com intensidade...


Já vejo o Estado do Homem: Hoje o delírio vai assaltar a cidade, os hospitais estarão cheios, os loucos hão-de trepar às chaminés das casas, o país vai rebentar de uma euforia, os manicómios vão estar sobrelotados...


Já vejo o Estado do Sonho: Depois de arrasar com Barcelona, o Benfica monta o seu ginete andaluzio e derruba os moínhos das paisagens da Europa até conquistar a Champions, recebendo o troféu das próprias mãos da Estátua da Liberdade...


Já vejo o Estado da Morte: Depois de uma goleada histórica indescritível, o Benfica, esse modesto clube de um pequeno país do confim europeu, arrastou-se vergonhoso até casa, e pediu desculpa ao mundo por ainda ousar existir. Os 15 a 0 que o Barcelona lhe aplicou foram vistos pelo treinador do Benfica como uma graça do Céu por não terem sido trinta e cinco, dado o elevado número de ocasiões falhadas pelos catalães, inclusive, os dezassete penalties que Eto'o, Messi, Deco e Gaúcho generosa e compassivamente atiraram à barra. Os jogadores explicaram mais tarde em conferência de imprensa, e em lágrimas, que não conseguiram marcar mais golos depois do décimo quinto, por mero princípio moral, por entender que, ninguém neste mundo, nem mesmo Bush, por exemplo, merecia tamanha humilhação, por maior que fosse o seu crime. Num último soluço, os artistas confessaram ainda que se sentem profundamente arrependidos pelos golos que marcaram, pedem desculpas pelos danos físicos e morais, e prometem fervorosamente acender, à noite, uma vela, em Fátima, em nome da alma moribunda do Benfica. Os jogadores da instituição nacional, por sua vez, estão ainda em coma, devido ao severo choque sofrido, e não há prognósticos de recuperação.


No final da noite, Freddy Mercury ressuscitou com o assombro do resultado e veio entoar o glorioso Barcelona com uma Monserrat magra e jovial. Esta chorou com o dueto e, no final da actuação, agraciou ainda a assistência com uma última surpresa encantadora:



Bamboleando-se airosa e tímida por entre os presentes, acentuando ligeiramente o decote até mais ou menos à zona do umbigo, subindo a renda da saia e mostrando a pernita bem torneada até um pouco mais abaixo da anca e mais acima da coxa, chegou-se ao bem dentado Ronaldinho e, mirando com gula acentuada o pézinho de oiro com que ele, após 175 toques bem medidos, marcou o seu 11º e último tento da noite, pediu, ao excepcional atleta, o referido pé em casamento...

Um Pensamento Antigo...

Benfica vence Sporting por 1-0 a uma jornada do fim. Adeptos, numa histeria, entoam cedo demais as notas da Celebração. Hordas de formigas sobem pelas estátuas, povoam rotundas, buzinam nas ruas. Uma euforia delirante e fútil espalha-se como um presságio. Os Homens sem posses e sem esperanças, cansados e vencidos por uma estafa diária, cravam as unhas roídas nesta alegria vã. Talvez aqui a Fortuna, que tem o seu modo de brincar com os simples, não os desiluda: O Benfica será campeão. O Sporting vencerá a Uefa no seu próprio estádio. O país pára por inteiro e é de súbito uma nação perfeita: Portugal está no topo do Mundo!
Começa então a dança das bandeiras, como um baile de infelizes, a procissão dos incapacitados que corre as avenidas, enche as varandas e as janelas das casas, enfeita os automóveis, veste os corpos… De novo gritos de júbilo, palavras de ordem, os carros que fazem festa nos semáforos, as gentes que se falam como se fossem irmãs naquela hora, para não se conhecerem de novo na manhã seguinte: «Viva! Sou grande, sou o maior, sou português! Viva! Somos um povo completo! Estamos juntos!»
E passado o efeito desta espécie de álcool, regressar à miséria deste país lento que pede a toda a Europa (que digo eu?!, ao Mundo!) a dignidade vital para existir… (Lisboa, 14/05/05)

domingo, março 26, 2006

Tiranias

Os tiranos só são possíveis durante o sono do simples que não se sabe maior que a Tirania. O poder do Mundo, todo o poder do Mundo está nas tuas mãos. Mas todos os dias tu te queixas do patrão que não te paga o que deve, do Ministro que te drena o sangue com os impostos que lhe pagam as férias, do que o preço do petróleo faz à inflacção. O dinheiro que te faz miserável é uma rodela de metal tirado do ventre da terra, e um papel verde e feio que cheira a podridão. Imagina que todos os Homens iam ao Cabo do Abismo devolver o metal, e que rasgavam as notas deixando pedaços ao vento. Tu vais rir-te, vais dizer que é impossível. Eu digo-te que ainda dormes e que é isto o Paraíso que Moisés prometeu, esquecendo-se de dizer que não é Deus que o traz mas tu mesmo. E sabes o que diz disto o tirano que te escraviza? «Cruzes, senhor! Bate em madeira! Que enorme catástrofe!»

Então, Senhor Ministro?

Observei hoje, isto é, ontem, um curioso acontecimento:
Por mero acaso, fortuitamente, pude achar, com os meus olhos de lince, em certa livraria de Lisboa, cujo nome, por pudor, não menciono, o nosso distinto ministro da Admnistração Interna, o Exmo. Sr. Dr. (e eventualmente Professor) António Costa. Ele, tentando, eu bem vi!, ser escorregadio e discreto, veio adquirir comercialmente (um preciosismo linguístico com que pretendo dizer comprar), um guia... não, não político, não económico, não jurídico, não laboral, não admnistrativo, não interno, mas... turístico... para (pasme-se!, ericem-se os cabelos e as espinhas!, caiam os pêlos!)... o Egipto.
Selvagem! Cão tinhoso! Como é isto possível?!
Eu fiquei, confesso, cabisbaixo e parvo. A perplexidade amarrou-me, deixou-me paraplégico, imbecil...
Pois então, pensei eu, o povo aperta o cinto e o ministro passeia?
Mas logo, arrependido, considerei:
«Disparate! Que má língua! Com certeza que o ministro ia em trabalho, em negócios de Estado, em nome do páís! »
Talvez... Mas porque era, então, o guia, turístico?
«Francamente, Miguel! Era um presente!»
Talvez... Mas porque não pediu para embrulhar?
«Mas ora essa! Fazia um favor a outrém!»
Talvez... Outrém que não pôde ir comprá-lo porque estava, por certo, a trabalhar. Que fazia então o ministro, alí, naquele lugar, em hora de expediente?
«Convenhamos: um ministro é uma pessoa normal. Tem direito à vida privada»
Talvez... mas confesso que ainda lhe vejo uns tentáculos marcianos que me apoquentam de noite e não acredito na privacidade em hora de trabalho. O marciano devia estar a defender os interesses dos terráqueos que jurou defender. Porque não estava ele a trabalhar?
O arrependimento calou-se e o meu eu social e consciêncioso não achou justificação que me desse.
Postas, assim, as dúvidas, e dadas as respostas, não me resta mais que concluir:
Senhor ministro, o senhor é um facínora!
Com que direito?!
E arremeto contra ele, em privado, com insultos do cariz mais feroz...
(...)
Agora, mais calmo, acrescento:
Senhor ministro, perdoe-me se o injusticei ou difamei. Longe de mim tal intenção:
O Gume não busca mais do que a verdade.
Mas eu sei que o senhor me compreende. Afinal, por experiência, o senhor sabe bem melhor do que eu que não se pode confiar num político. Se não é impossível, por rejeição natural do corpo e da mente que lhe está associada, será, pelo menos, suicida. Não é verdade?
Esclarecidos que estamos, não me resta mais do que saudá-lo:
Bem haja e boa viagem!
E traga de lá umas lembranças para o povo português!
Que tal, por exemplo, à falta de melhor, um pequeno alaúde e um saquinho de areia, para disfarçar, com boa música (e deitando boa areia para os olhos clarividentes) a lástima infeliz do seu governo?

sábado, março 25, 2006

O Manifesto do Segundo Gume


Anuncia-se orgulhosamente que o Gume nasceu e não chorou, nem berrou mas tinha a língua de fora e já fazia um manguito.
O Gume é o blog onde tudo é possível.
O Gume é o Futuro.
O Gume é Eterno.
O Gume é Supremo.
O Gume é Inteligente.
O Gume é Sarcástico.
O Gume é Irónico.
O Gume é Soberbo.
O Gume não é Moral, nem Imoral, mas Amoral.
O Gume é a Flor do Mal que quer o Bem.
O Gume é um ultrage,
E é ultrajante,
Mas nunca será ultrajado.
O Gume não publicita: faz.
O Gume não promete: cumpre.
O Gume não se conforma mas conforma, reforma, informa, deforma, dá forma.
O Gume não dá festas nem palmadinhas nas costas:
O Gume dá sôcos que parecem pedras atiradas de perto e de longe.
O Gume punge.
O Gume estoca.
O Gume fere.
O Gume não se mascara:
O Gume dá a cara e dá na cara.
O Gume não se coíbe,
Não se inibe,
Não se esconde.
O Gume tem espinha.
O Gume é Vertical,
O Gume é Vigoroso,
O Gume é Viril.
As mulheres do Gume são grandes Amazonas.
O Gume é Justo.
O Gume é Culto.
O Gume é Raro.
O Gume é Sério.
O Gume é Sóbrio.
O Gume é Sensual.
O Gume é um disparate pegado.
O Gume é Belo mas sabe ser Horrível.
O Gume é irresponsável mas assume o que diz.
O Gume não é de uma causa, mas tem causas.
O Gume não é Supersticioso mas é Precavido:
Não cruza facas, arremessa-as.
Não passa sob escadas: sobe-as.
Não avança por detrás de gatos pretos, mas pela frente. E não lhes liga quando usam gravata.
Não parte espelhos: atravessa-os.
O Gume é Arrebatador.
O Gume é Poético.
O Gume não tem vergonha por saber que a vergonha é um preconceito.
O Gume não se submete à vontade alheia. Pelo contrário:
O Gume institucionaliza uma vontade.
O Gume não acredita na liberdade de opinião nem tampouco na liberdade em geral, mas defende-as.
O Gume agradece a quem diz bem do Gume.
O Gume aplaude quem diz mal do Gume.
O Gume aniquila quem não sabe o que diz.
O Gume não é extremista nem maniqueísta:
Quem não é do Gume não tem de ser contra o Gume.
Quem é contra o Gume não tem de morrer, basta estar calado.
O Gume não se contraria, complementa-se.
Se defende dois pólos opostos, fá-lo em favor do ponto de vista.
O Gume é tolerante, mas não é parvo:
O Gume não tolera a estupidez.
O Gume tem académicos mas despreza as academias.
Os membros do Gume são, por natureza, GENIAIS.
O Gume é Segundo mas não está atrás de ninguém, antes, senta-se com pompa e arrogância sobre as cabeças ôcas dessas avestruzes engripadas da nossa Sociedade!
O Gume é Segundo porque traz à tona o que a poeira do tempo e a mentira do Homem querem há tanto esconder.
O Gume é Segundo porque corta e ataca dos dois lados da pena. O inverso de um rosto belo é o rosto normal do Gume: o Gume é o retrato da Sociedade Portuguesa, trazendo à luz do sol a alma desse Dorian Gray de palmo e meio.
O Gume é o Mr Hyde desses Jeckyll de condescendências, servidões, cinismos, hipocrisias, vassalagens.
Não se aproximem do Gume, porque ele morde!
O Gume tem dentes afiados e má digestão. Não queiram experimentar a bilis do Gume!
O Gume é polimorfo, poliglota, politeista, polígamo, poligráfico, político, polémico, plural.
O Gume diz sempre a verdade, mesmo quando está a mentir.
O Gume é acutilante e imesericordioso: perfura sem dó as bestas quotidianas e com os seus restos faz um arroz de cabidela que devora impiedoso lambendo, sem maneiras, mãos e beiços.
O Gume nutre uma paixão grotesca pelo sangue das suas vítimas descarnadas: não queiram ser inimigos do Gume!
O Gume vai dominar o espaço português e depois disso quer conquistar o Mundo! Acautelem-se: O Gume tem um plano!
O Gume é, sem escrúpulos, megalómano e magnânimo.
O Gume é um assombro.
O Gume mete medo!
O Gume não é Comunista mas come criancinhas!
O Gume não é de esquerda, nem de direita, nem do centro:
O Gume é de todo o lado e despreza democrática e plenamente todos os partidos políticos.
O Gume insulta sem modos por entender que os modos desprestigiam o insulto.
O Gume não tem religião mas todas as religiões incluem o Gume e se esventram, incautas, com os seus contrasensos.
O Gume diz que os Judeus deviam governar Portugal para acabar com o buraco financeiro.
O Gume é Fiel.
O Gume é Desportista.
O Gume é parcial por saber que a imparcialidade é o Mito de Couro com que se encobre o hipócrita.
O Gume não quer ser árbitro, quer ser carrasco.
O Gume tem sempre fome.
O Gume quer sempre mais.
O Gume é o pasquim do absurdo!
O Gume é ideologicamente pornográfico.
O Gume é sublimamente erótico.
O Gume é perfidamente obsceno.
O Gume não se lava para não se sujar continuamente com a podridão Humana.
O Gume é Venenoso.
O Gume é Bélico.
O Gume é Feliz.
O Gume não é nacionalista, é Nacional.
O Gume é o Gume.
O Gume tem bis,
Mas nunca se cansa,
Nunca se repete,
Nunca se curva,
Nunca está desprevenido,
Nunca aceita ordens,
Não tem hierarquias,
Não tem depressões,
Não tem fraquezas
Não tem falhas no rosto.
O Gume não tem papas na língua,
Não tem hesitações,
Não tem dúvidas,
Não se engana,
Não recua:
O Gume é Essêncial.
O Gume é Revolucionário,
O Gume é Puro,
O Gume é Inovador,
O Gume é Original,
O Gume é Perfeito,
O Gume é Brutal.
O Gume luta com cravos, com espadas, com penas, com o que tiver à mão.
O Gume é um Poema.
O Gume é um Incêndio.
O Gume é Único.
O Gume quer a discussão construtiva ou o vaticínio aniquilador, mas não tolera o debate vazio.
O Gume tem ideias, dá ideias, pede ideias, quer ideias, idealiza e impõe que não há ideia sem acção.
O Gume vai arrasar metaforicamente o Palácio de São Bento e o Palácio de Belém e o Palácio da Preguiça Universal.
O Gume vai arrasar fisicamente as banalidades do tédio, as casmurrices dos tolos, as ignorâncias do ódio, os estapafúrdios da lógica, as tiranias da lei, as cobardias da força, a mesquinhez da discriminação.
O Gume tem a cura para a estupidez: açoitar até à morte os idiotas.
O Gume é Inacabado e Inacabável.
O Gume é Fraterno.
O Gume não exclui, elimina.
O Gume quer,
O Gume pode,
O Gume manda.
O Gume veio,
O Gume viu,
E já venceu.
Celebrações!
Olha o Gume!
O Gume saiu à rua!
Viva o Gume,
Viva o Gume,
Acendam velas!
Toquem sanfonas!
Façam fanfarras!
Apaguem a luz ao dia!
É o Prometido!
É o Desejado!
É o Messias!
Nasceu o Gume! Nasceu o Gume!
O Gume nasceu!