quinta-feira, agosto 31, 2006

Delírios da Passividade.

- O Público de 31 de Agosto diz que «Fumo passivo mata mais de 1500 pessoas por ano em Portugal»
- O activo, em contrapartida, espevita a circulação sanguínea e rodoviária.
- Activo é um termo sugestivo. Mas induz em erro. Define passivo.
- Passivo são as dívidas que a empresa tem num determinado momento. O passivo pode levar à falência. Se tiveres algum dinheiro de parte pode também levar-te a outros sítios.
- O princípio activo não é melhor nem pior do que o passivo. É igualmente ineficaz.
- Tenho outro exemplo: o tipo levou na tromba por ser muito passivo...
- Na verdade, limitou-se a apanhar por ser ele próprio.
- E sobre os tribunais? Achas que há passividade na Justiça?
- Não. Na Justiça não. Mas podemos encontrar imagens curiosas: o processo é passivo de arquivação.
- Mas mesmo a arquivação requer passividade...
- E um caso social?
- O Castelo-Branco. É claramente passivo: tem bom timbre de histeria e uma clara incapacidade para tomar qualquer decisão.
- O amor?
- Não existe. Mas sei de um caso estranho. Um homem que se buscava a si próprio... Por estar passivo perdeu o combóio. Foi encontrá-lo em Braga um mês depois. Tinha um letreiro numa das janelas: Cansei-me e estou com outra carruagem. Nunca mais me telefones.
- É possível que este post seja passível de despromoção despudorada...
- Se assim tiver de ser, resigno-me. Mas desresponsabilizo-me das farpas do delírio...
- O meu psiquiatra já vinha alertando para esta ameaça...
- Sim, os psiquiatras costumam ser astutos...
- Sim, muito astutos. Gosto muito do meu psiquiatra. Ouve-me bastante...
- Quanto lhe pagas para isso?
- 75 euros por sessão. É o razoável...
- Sim, sim, é um bom preço. Ele é muito atencioso em ouvir-te.
- Sim, muito atencioso. Recomendo a todos um bom psiquiatra.
- Sim... talvez recomendes o teu?
- Sim, recomendo o meu. É muito bom. É brasileiro, sabias?
- Boa! Pensei que só os dentistas viessem para cá!
- Não, não, os dentistas já eram! Eles agora estão muito mais à frente! São pioneiros no estudo da psyché humana!
- Extraordinário!
- Sim, muito bom. Só lá ao longe é que o progresso acontece...
- Sim, lá ao longe...
- O que estamos a fazer?
- A evoluir.
- Claro. Mas ao longe...
- Claro, ao longe.
- Pois.
- Agimos discretamente.
- É evidente.
- É bom ter-se nascido português.
- Sim, é agradável...
- Sim, muito bom, mesmo. Pensar e evoluir não cansa. É mesmo reconfortante.
- É verdade. Nunca tinha pensado nisso assim. Não precisei, sabes, sempre me senti bem com a minha degradação...
- Tem um je ne sais quoi de poético...
- Sem dúvida, é esse o termo: «de poético».
- Sim, sem dúvida... Mais uma passa?