Um Pensamento Antigo...
Benfica vence Sporting por 1-0 a uma jornada do fim. Adeptos, numa histeria, entoam cedo demais as notas da Celebração. Hordas de formigas sobem pelas estátuas, povoam rotundas, buzinam nas ruas. Uma euforia delirante e fútil espalha-se como um presságio. Os Homens sem posses e sem esperanças, cansados e vencidos por uma estafa diária, cravam as unhas roídas nesta alegria vã. Talvez aqui a Fortuna, que tem o seu modo de brincar com os simples, não os desiluda: O Benfica será campeão. O Sporting vencerá a Uefa no seu próprio estádio. O país pára por inteiro e é de súbito uma nação perfeita: Portugal está no topo do Mundo!
Começa então a dança das bandeiras, como um baile de infelizes, a procissão dos incapacitados que corre as avenidas, enche as varandas e as janelas das casas, enfeita os automóveis, veste os corpos… De novo gritos de júbilo, palavras de ordem, os carros que fazem festa nos semáforos, as gentes que se falam como se fossem irmãs naquela hora, para não se conhecerem de novo na manhã seguinte: «Viva! Sou grande, sou o maior, sou português! Viva! Somos um povo completo! Estamos juntos!»
E passado o efeito desta espécie de álcool, regressar à miséria deste país lento que pede a toda a Europa (que digo eu?!, ao Mundo!) a dignidade vital para existir… (Lisboa, 14/05/05)
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