quarta-feira, março 21, 2007

No Dia Mundial da Poesia... O Mundo Segue Sem Poesia Alguma...


No dia Mundial da Poesia, venho, em circunstância e pompa, celebrar, neste país miserável de velhas botas-de-elástico, a extraordinária ausência de poetas. Porque hoje Portugal é de vanguarda! Porque hoje Portugal é do progresso! Salvé! Salvé! Aleluia! Finalmente os saudosismos foram postos na gaveta, os lirismos escondidos debaixo do tapete, os sentimentalismos deitados à rua a golpe de biqueira, os onanismos literários e literários deveras atirados pela janela fora para se estatelarem na calçada suja onde mereciam estar! Ah!, demos vivas à nova poesia que o é inteiramente por o não ser muito, pouco ou de modo algum! Demos vivas à capacidade inteligente dos craneos de agora, conscientes e equipados de tecnologias novas, para poderem compreender que a não têm nenhuma! Celebremos os incomparáveis em mediocridade poética que são Júdice, Hatherley, Pais Brandão, Pedro Tamen, Neto-Jorge, Belo, Pinto do Amaral e afins! Champagnes Dom Perignon, reservas de Bordeus, Roses de requinte real para festejar estes brutos! Porque se toda a bestialidade fosse embebida em vinho e apresentada em Beleza de tecidos finos e traje chinês, que belo, meu Deus sem ser ou ser meu, que belo, caramba!, seria o Mundo!
(Lisboa, 21/03/07).