domingo, janeiro 06, 2008

Il Milione/ Il Millenium BCP - Relatos de Marco Polo I - Sobre as Artes Invisíveis

Oh Grande Kublai Kan!, enfim venho falar-te das maravilhas do Mundo! Além dos teus domínios, numa outra Tartária, existe um Reino Quase Fantástico a que os homens que lá vivem dão o curioso nome: Portugal. Originais em tudo quanto fazem (até na sua preguiça), estes homens têm um talento particular para o exercício das Artes Invisíveis. São capazes das maiores barbaridades sem que ninguém, mesmo sabendo delas, possa vê-las, afinal, acontecer: Os seus actos detectam-se pelas consequências que têm e não pela sua execução.

Esta Arte da Invisibilidade, praticada e aperfeiçoada ao longo dos séculos, é aplicada nos mais variados meios com os mais variados fins. Não me crês? Pois vê, ò Grande, este singular exemplo: Nesta Tartária (não muito longínqua - pois afinal, além do teu Império, o Mundo é tão pequeno!) dá-se, neste momento, uma Guerra singular pelo controlo do Mercado Bancário. Uma Guerra que, como todas as Guerras, é política, ainda que, em todas elas, haja quem queira falar de sentidos humanitários, e religiosos, e sociais, e comunitários, e económicos... Por mais que as razões apelem ao sentimento ou, numa forma mais crua, às simples leis do Mercado, há sempre uma Razão de Estado (isto é, de Poder e da Vontade de obter o seu exercício) a interferir sobre a pertinência e o sentido de todas elas. Assim, depois de um curioso historial do que se supõe geralmente ser corrupção interna e externa (com conivência passiva das autoridades regentes ao longo de uns bíblicos sete anos), do que se imagina ser tráfico de influências, do que se observou ser guerrilha por conquista de uma e outra parte concorrente (OPA-Assumida VS OPA-Camuflada BCP-BPI e vice versa), chegam estes Mestres do Disfarce ao ponto alto da sua Arte do Invisível: Despoletar uma Guerra Partidária, de subtilíssimo (mais uma vez só se distinguem consequências!), subtilíssimo perfil, em pleno campo económico e privado.

Por um lado, um Governo com elementos sem força própria que, para a mostrar, precisam de usar as armas mais elementares do Totalitarismo; um Governo que, vendo-se subitamente em cheque pelo estalar de um escandalo que por sucessivas administrações deixou passar, procura encobrir a mancha no soalho da sua imagem exterior com um recurso de última hora que, a um tempo, possa garantir a impressão de estabilidade, controlo, segurança, intervenção, conhecimento e sageza: A medida? Recruta um alto funcionário da Banca Pública para o controlo do maior Banco Privado Nacional.

Efeito prático previsto para um futuro próximo? Pois já se vê, ò Grande Kan, qual deve ser!: Num impressionante gesto de invisibilidade (afinal, até, algo visível!) esse Governo controla uma percentagem impressionante do mercado financeiro dessa original Tartária, por ter nas mãos os cordões de titereiro do Banco Estatal e da mais representativa fatia da Banca Privada. Todos querem o teu Ceptro d'Ottokar!

E a Oposição, por seu turno (que muito democraticamente varia -numa riqueza de opções nunca vista - entre duas grandes forças que se alternam e "desalternam" no Poder [PS-PSD]), agora encabeçada pelo Sr. Dr. (porque,outro pormenor notável da cultura deste povo, até o sapateiro é Doutor) Luís Filipe Menezes (PSD) - este Sr., por acaso, só para contrariar, é realmente médico mas não está, segundo creio, em exercício -, parte também ao ataque, engendrando, sobre o minuto final, este magnífico plano: Cria uma outra Lista, paralela àquela Oficialmente-Não-Governamental, com um outro lider em consideração, lista essa e lider esse, cujos membros são, por mera coincidência (enigma do Destino), filiados ou simpatizantes do...PSD.

Em todas as culturas, Grande Kan,se acham maravilhas e lições. Deste povo eu te proponho, ò Rei dos Reis, a inspiração da subtileza, instrumento da Invisibilidade, e elemento revolucionário da Arte Sublime e tão difícil (mas que tu, ò Sábio!, bem conheces) de Bem Governar... E por hoje deixo aqui o meu relato... Que as estrelas te tragam um bom ano, Kublai Kan, e a todos os teus súbditos, de Aquém e Além Tartária, sem distinções, por agora, da sua idoneidade..
Il Milione...