terça-feira, março 28, 2006

Um Pensamento Moderno...

É hoje! Barcelona! Barcelona! Os sinos batem nas igrejas! As mulheres vêm às janelas agitar as tampas dos tachos e os trapos da cozinha e do chão! Os vendedores de hortaliças, os afiadores do aço, os homens do gaz, os polícias, os bêbados, todos saiem à rua com pífaros, apitos, bandeiras, lança-chamas! É sublime! Todo o país se prepara para o triunfo final da noite mágica!
Já vejo o Estado do Tempo: Hoje o céu estará vermelho, a humidade será pouca, a temperatura alta, os termómetros vão registar uma explosão, a terra vai tremer com intensidade...


Já vejo o Estado do Homem: Hoje o delírio vai assaltar a cidade, os hospitais estarão cheios, os loucos hão-de trepar às chaminés das casas, o país vai rebentar de uma euforia, os manicómios vão estar sobrelotados...


Já vejo o Estado do Sonho: Depois de arrasar com Barcelona, o Benfica monta o seu ginete andaluzio e derruba os moínhos das paisagens da Europa até conquistar a Champions, recebendo o troféu das próprias mãos da Estátua da Liberdade...


Já vejo o Estado da Morte: Depois de uma goleada histórica indescritível, o Benfica, esse modesto clube de um pequeno país do confim europeu, arrastou-se vergonhoso até casa, e pediu desculpa ao mundo por ainda ousar existir. Os 15 a 0 que o Barcelona lhe aplicou foram vistos pelo treinador do Benfica como uma graça do Céu por não terem sido trinta e cinco, dado o elevado número de ocasiões falhadas pelos catalães, inclusive, os dezassete penalties que Eto'o, Messi, Deco e Gaúcho generosa e compassivamente atiraram à barra. Os jogadores explicaram mais tarde em conferência de imprensa, e em lágrimas, que não conseguiram marcar mais golos depois do décimo quinto, por mero princípio moral, por entender que, ninguém neste mundo, nem mesmo Bush, por exemplo, merecia tamanha humilhação, por maior que fosse o seu crime. Num último soluço, os artistas confessaram ainda que se sentem profundamente arrependidos pelos golos que marcaram, pedem desculpas pelos danos físicos e morais, e prometem fervorosamente acender, à noite, uma vela, em Fátima, em nome da alma moribunda do Benfica. Os jogadores da instituição nacional, por sua vez, estão ainda em coma, devido ao severo choque sofrido, e não há prognósticos de recuperação.


No final da noite, Freddy Mercury ressuscitou com o assombro do resultado e veio entoar o glorioso Barcelona com uma Monserrat magra e jovial. Esta chorou com o dueto e, no final da actuação, agraciou ainda a assistência com uma última surpresa encantadora:



Bamboleando-se airosa e tímida por entre os presentes, acentuando ligeiramente o decote até mais ou menos à zona do umbigo, subindo a renda da saia e mostrando a pernita bem torneada até um pouco mais abaixo da anca e mais acima da coxa, chegou-se ao bem dentado Ronaldinho e, mirando com gula acentuada o pézinho de oiro com que ele, após 175 toques bem medidos, marcou o seu 11º e último tento da noite, pediu, ao excepcional atleta, o referido pé em casamento...