domingo, março 26, 2006

Então, Senhor Ministro?

Observei hoje, isto é, ontem, um curioso acontecimento:
Por mero acaso, fortuitamente, pude achar, com os meus olhos de lince, em certa livraria de Lisboa, cujo nome, por pudor, não menciono, o nosso distinto ministro da Admnistração Interna, o Exmo. Sr. Dr. (e eventualmente Professor) António Costa. Ele, tentando, eu bem vi!, ser escorregadio e discreto, veio adquirir comercialmente (um preciosismo linguístico com que pretendo dizer comprar), um guia... não, não político, não económico, não jurídico, não laboral, não admnistrativo, não interno, mas... turístico... para (pasme-se!, ericem-se os cabelos e as espinhas!, caiam os pêlos!)... o Egipto.
Selvagem! Cão tinhoso! Como é isto possível?!
Eu fiquei, confesso, cabisbaixo e parvo. A perplexidade amarrou-me, deixou-me paraplégico, imbecil...
Pois então, pensei eu, o povo aperta o cinto e o ministro passeia?
Mas logo, arrependido, considerei:
«Disparate! Que má língua! Com certeza que o ministro ia em trabalho, em negócios de Estado, em nome do páís! »
Talvez... Mas porque era, então, o guia, turístico?
«Francamente, Miguel! Era um presente!»
Talvez... Mas porque não pediu para embrulhar?
«Mas ora essa! Fazia um favor a outrém!»
Talvez... Outrém que não pôde ir comprá-lo porque estava, por certo, a trabalhar. Que fazia então o ministro, alí, naquele lugar, em hora de expediente?
«Convenhamos: um ministro é uma pessoa normal. Tem direito à vida privada»
Talvez... mas confesso que ainda lhe vejo uns tentáculos marcianos que me apoquentam de noite e não acredito na privacidade em hora de trabalho. O marciano devia estar a defender os interesses dos terráqueos que jurou defender. Porque não estava ele a trabalhar?
O arrependimento calou-se e o meu eu social e consciêncioso não achou justificação que me desse.
Postas, assim, as dúvidas, e dadas as respostas, não me resta mais que concluir:
Senhor ministro, o senhor é um facínora!
Com que direito?!
E arremeto contra ele, em privado, com insultos do cariz mais feroz...
(...)
Agora, mais calmo, acrescento:
Senhor ministro, perdoe-me se o injusticei ou difamei. Longe de mim tal intenção:
O Gume não busca mais do que a verdade.
Mas eu sei que o senhor me compreende. Afinal, por experiência, o senhor sabe bem melhor do que eu que não se pode confiar num político. Se não é impossível, por rejeição natural do corpo e da mente que lhe está associada, será, pelo menos, suicida. Não é verdade?
Esclarecidos que estamos, não me resta mais do que saudá-lo:
Bem haja e boa viagem!
E traga de lá umas lembranças para o povo português!
Que tal, por exemplo, à falta de melhor, um pequeno alaúde e um saquinho de areia, para disfarçar, com boa música (e deitando boa areia para os olhos clarividentes) a lástima infeliz do seu governo?