I
«Casa de Bem» é o dito no letreiro
No lar de D. Engrácia e D. Cusca;
Aclara-o um pontudo candeeiro
Que uma tesuda porra à vez ofusca.
Na casa em frente tem «Casa do Bom»
A placa das seis manas fodilhonas;
Pitucha, que é mais velha, dá o tom;
E a um sinal seu, as manas dão as conas!
D. Policarpo, bispo da Parvónia,
Vindo pregar e achando dissolutas
As suas rezas no portão das mouras,
Achou por bem ditar, na Cerimónia,
Tratar sérias senhoras como putas
E as putas como íntegras senhoras!
Lisboa (Sapadores), 03/01/08
II
Irra Gertrudes, não te faças santa
Que é coisa que me assanha que nem sonhas!
És casta só se o bicho não levanta!
Por isso, filha, deixa-te de ronhas!
Tens aqui, faminta e bem espigada,
A minha haste túmida e lambona:
Mama esse tronco, vá, não custa nada,
Que já to afundo, ò sôfrega, na cona!
Deixa-te lá de rezas e mezinhas
E guarda-me essa boca para a chucha!
Não temas, filha, é certo que eu não falho!
E entre um forame e outro, são sardinhas!
Tudo é do bom, mulher, nenhum dá estucha!
Importa é pôr-lhe dentro o meu caralho!
Lisboa (Sapadores), 02/01/08
III
João do Coice, um homem com H,
Lia descansado, junto ao fogo,
Uma revista (de homens, claro está)
Com gravuras de caça lá do Togo.
Angélica, sua esposa, vendo ao longe
O conteúdo ígneo das gravuras,
Gritou: «Ai que desmaio! Chama um monge!
Preciso de benzer as queimaduras!»
O cônjuge (que já sabia a peça)
Tirou do nome o Coice e com destreza
Foi pô-lo na vivaz lareira acesa!
Solícito, o Viril viu com surpresa
Como ela se agitava; e disse: «Homessa!
Meu anjo, calma, a missa mal começa!»
Lisboa (Sapadores), 03/01/08
IV
Alice era pancada sem piedade
Por Manuel Maria, um meliante:
O biltre azorragava na beldade
Como um sátiro pela uma bacante!
Mas ‘inda que o Barbosa se esforçasse
Não tinha dessa virgem mais que arrufos
E juras de que homem que a atiçasse
Seria só Miguel, o Enraba-Bufos!
E o bufo, furioso, lá bufava,
E em vão zurzia a diva que amuava!
«Eu fodo a puta, e a puta não reage?!
Ingrata – disse então – tu és rameira!
Mas nem que eu perca aqui a noite inteira,
Hás-de dizer que te fodeu Bocage!»
Lisboa (Sapadores), 05/01/08
V
Lascivos, Lim Po Po e Lim Po Ku
Eram ditosos manos siameses;
Comiam, sem estranhar, soja e bambu,
De acordo com os seus hábitos chineses.
A Lim Po Po pediam as donzelas
Que tirasse o cotão de suas casas;
E ao mano Lim Po Ku rogavam elas
Que lhes lavasse as cinzas de outras brasas!
E os manos, serviçais e prazenteiros,
Obedeciam, mansos como um potro,
Das báquicas noviças a tais manhas!
E, se sobrava tempo aos dois carneiros,
Iam, com gula, limpar um do outro
Os ninhos conspurcados, das aranhas!
Lisboa (Saldanha), 04/01/08
VI
Lisetta, minha querida, Gabriel,
Afiançou-me com fulgente apego,
Que a cura do seu drástico insossego
Seria experimentar vosso dossel.
Falta porém substância ao desgraçado
Com que lhe seja dado dar-vos graças;
Quer ele relevar vossas pirraças,
E aplacar o ardor desatinado!
Ofereço-me pois eu, bojudo frade,
Como instrumento dessa caridade
De vos render um arcanjo por amante!
Deponho-me aqui, nu, simples matéria,
Parte sensível de outra mais etérea…
Vinde ora vós orar um bom instante!
Bruxelas, 14/02/04
VII
Portugueses, eu, O Restaurador,
De nome D. João, que será quarto,
Prometo, hoje, restaurar a dor
De que este povo português está farto!
Eu sou a alegoria do Futuro,
O Princípio do Novo Portugal:
De Salazar, cornípeto casmurro,
A Santana, histrião Universal!
Eu sou a Consciência, vulgo meu,
Da Dimensão que Portugal perdeu
Por ter por tino pasta de ceróis!
Eu sou o Entono deste país lento,
Que há-de acordar, um dia, num lamento,
Por ter expulsado os cérebros espanhóis!!!
Lausanne, 01/12/04
VIII
Laurinda, obedecendo a sua mãe,
Mungia a sã Mimosa, vaca mansa;
Empenho, é certo, tinha; e uma pujança!
Mas, por verdura, não mungia bem…
Mugia bem Mimosa, no entanto,
Por ver tão mal cuidadas suas tetas!
Chegou, em seu socorro, o Zé das Petas,
E disse à moça, já lavada em pranto:
«Laurinda, linda, deixa que eu te ensino:
Mungir é arte: Pede amor e tino.
Queres leite? Dou-te leite, e já sem borra!
Como lição, munge este porro um pouco –
Tem leite não de vaca nem de côco,
Mas de uma divinal fonte de esporra!»
Lisboa (Sapadores), 05/01/08
IX
Porque a publicidade (que é um deus)
Aventa praticar sexo seguro,
E porque na morada dos Mateus
Se estreita o cinto no último furo,
Chegou-se à conclusão, após debate,
Que o meio de foder sem ter abalos,
E sem dar às finanças xeque-mate,
Seria pela ré, com intervalos.
De início, Rosinha, era sussurros;
Depois já vozeava feias frases,
Até que, não podendo, foi aos murros!
Mas Rui, inamovível, disse: «Ou fazes…!»
E da boca da pobre saem urros,
Do cu, como suspiros, longos gazes…
Lisboa, (Sapadores), 06/01/08
X
Já Bocage não sou, que me roubaram
A fama de Senhor dos Putanheiros!
A mim, que arrepiei onde estacaram
Os mais afoitos e ágeis fodilheiros!
A mim, que operei no cu de deusas
Mais maravilhas do que vimos delas,
Vêm dizer-me umas ambíguas Neusas
Que há um Fulano-Mestre-das-Pielas!
Que espanto é este, amnésicas coironas,
Se me precede a verga desde Goa,
Onde corri e comi cada bordel?!
Dizei Cochim, provei todas as conas!
Nos Mares da China o meu nome ressoa!
Mas quem ouviu falar deste Miguel?!!!
Lisboa (Sapadores), 04/01/08