Deslumbramentos - O Gume Experimenta a Poesia V
Ah! Senhora, que chama me consome!
Como me alucino em convulsões!
É esse olhar, esse gesto, o sobrenome
Bordado nesses míticos brasões.
Não como. Não durmo. Não reajo.
Apodreço-me nas mesas dos cafés
A admirá-la, de longe, acorbadado
Envolta em lacaios, de librés...
Como os invejo! Bastar-me-ia tocar a vossa capa,
Seguir-vos fiel por toda a parte,
Como um vosso adorno, como um louco! –
Se amor é um fogo e cruel mata,
Então, grave mulher, de assim amar-te,
Não devia já de estar eu morto?
Lisboa, 14/10/94 – 14/03/98
P.S.: Odete, cara Odete,
Essa dama da Côrte que, por vezes, você veste,
Ainda que exaure sempre um'aura comunista,
Arrepia-me a pele de fundo entusiasmo!
Mesmo que, por norma, você seja uma peste,
Com uma tendência 'stranha para teatro e revista,
É o remédio perfeito p'r'ó marasmo...
É por isso qu'eu, sem ponta de talento,
Apenas por respeito e admiração,
Vos dedico (Odete, vem de dentro!),
O meu Deslumbramentos - simples composição...
Pode desdenhá-la, armar um pé de vento...
Mas foi pensada com o coração...
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