sexta-feira, agosto 10, 2007

Este São Tomé Que Vos Fala - Décima Sessão - Que Justiça?!

Tomé estava fora de si. Como chegou, partiu, amuado e virulento, sem justificações de maior no intervalo entre o seu discurso e os seus silêncios. O motivo que gerou esta lição, é-me e ser-me-à, temo bem, desconhecido. Mas foi assim, irmãos, que ele prégou:

- O corrupto divide-se em dois grupos: O que vigariza para sobreviver e o que vive a vigarizar. O primeiro, merece a minha condescendência porque faz o que pode e não o que quer. O segundo, merece o meu desprezo porque pode o que quer e abusa desse Poder. O primeiro, não conhece bem os seus direitos. Sabe que tem obrigações, que precisa de comer e de dar de comer aos seus, e a Lei não é mais do que qualquer coisa institucionalizada, pela vontade de poucos, que vem tomar o lugar da Justiça.
O segundo, sabe dos seus direitos e dos direitos dos outros, mas prefere ignorar tais direitos para além da esfera de si mesmo. Não tem obrigações porque tudo recebe o estigma de uma operação comercial e é pensado para obter um lucro. Quando come, rodeia-se do que julga ser o requinte, procura a opulência, cria excedentes, ingere a melhor parte e deixa os restos para os cães (que não têm forçosamente de ser de quatro patas).
Quanto à Lei, é o reposteiro onde pousa descansado a sua cabeça de pedra. Porque ela é o instrumento por meio do qual ele comete, com segurança, todas as suas irregularidades.
De facto, o corrupto deste segundo grupo, comete as suas ilegalidades legalmente: através das ambiguidades, contradicções, omissões e flutuações da Lei; através das suas deficiências; através dos seus desníveis sociais. E é nesta desigualdade autorizada, neste desiquilíbrio fomentado pelo Estado, que reside a sua satisfação mais profunda, o seu maior lucro, e o seu epidémico conceito de Justiça…

E eis, num só instante,a Sociedade, produto acabado do Homem, e o retrato final da sua própria invenção putrificada: O Homem-Deus (que é o Homem e que é Deus)...

E ainda me perguntam porque não creio eu nas chagas...

(Aveiro, 28/10/05)